sexta-feira, 14 de outubro de 2011

C.R.A.Z.Y.

Por Roberta Grassi




Se você observar a história da música vai ver que em cada época a música tem características e valores que a identificam como pertencendo a determinado período. Ouvindo uma música da década de 70, por exemplo, você consegue reconhecer ali as angustias, preocupações e os valores daquela época. Parece algo óbvio, já que uma das “funções” da música é expressar, ou mais do que isso, interpretar a realidade; mas se você parar pra pensar na época atual vai ver que a música atual é tão diversificada, a produção e divulgação da música é tão mais fácil e há tantas realidades diferentes que fica cada vez mais difícil definir as características da música que representa a nossa época.

Hoje você tem de tudo na música: pseudo roqueiros compondo canções bucólicas dignas de camponeses da era feudal, gente dissecando a década de 80 e tentando fazer soar como novidade, uma infinita miscigenação de gêneros musicais (algumas vezes mal sucedida) e por aí vai. E além de tudo isso, ainda há a “negação da nossa época”. Hoje em dia temos acesso a todo tipo de informação sobre a música do passado, só no Youtube você encontra material suficiente para se tornar fã de bandas que se dissolveram há décadas. E ouvindo certas obras do passado não tem como evitar a sensação de que a maioria das músicas atuais soa como um eco fraco, explorando apenas uma ínfima parte do poder que a música tem.

Esse tema é bem complexo e provavelmente eu não sou a pessoa mais indicada para dissecá-lo, mas depois que você assiste o filme “C.R.A.Z.Y. – Loucos de amor” não tem como a ideia de que mais do que mero entretenimento a música representa os valores de uma época não ficar martelando na sua cabeça.

O filme canadense de 2005 começa com o nascimento de Zachary no dia 25 de dezembro de 1960 e acompanha sua vida por duas décadas, mostrando a convivência com seus quatro irmãos, com a mãe religiosa e com o pai viciado em música. Ao longo dessas duas décadas, junto com Zachary e sua família, o filme mostra a evolução do rock.




A trilha sonora do filme é absurda: Elvis, Pink Floyd, David Bowie, Rolling Stones e The Cure. E em alguns momentos do filme a música deixa de ser simplesmente trilha sonora e passa a ser meio personagem meio parte da história.


Um desses momentos acontece quando Zac desenha um raio no rosto e junto com Bowie canta Space Oddity, até que seu irmão mais velho entra no quarto e desliga aquela “música de bicha”.
Bowie escreveu Space Oddity em 1968 depois de assistir “2001: Uma Odisseia no Espaço” de Stanley Kubrick, e o sentimento de estar “perdido no espaço e tentando se comunicar com a Terra” reflete bem a situação de Zac.





Em outro momento Zac se assume ateu para a mãe religiosa, a mãe diz que ele pode ser ateu o quanto ele quiser desde que ele frequente as missas e em um das cenas mais inusitadas de todos os tempos vemos uma igreja lotada fazendo coro para Mick Jagger em Sympathy For The Devil.



O filme é meio difícil de achar, mas vale muito a pena.


Até o próximo post


@robertagrassi
http://esquizofreniacoletiva.blogspot.com

2 comentários:

  1. ok, mais um filme q vc vai me emprestar... gostei da história, apesar q qdo li "crazy", achei q era o "crazy people", ou uma refilmagem, aí q saquei do q se tratava...

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  2. Preciso ver esse filme urgente. Parece ser muito bom. O difícil vai ser eu conseguir já que aqui não tem.

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