quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Rockeiros no Mercado de Trabalho



Meu xará, Marcelo Moreira, blogueiro do Estadão, escreveu um artigo que criou certo alvoroço nas redes sociais. Fazendo um resumo, a matéria fala de uma gradual mudança (especialmente no mercado de trabalho) na percepção do perfil que caracteriza o "fã de Rock".

A minha sugestão é para que leia o artigo (clique aqui) e depois retorne aqui para continuar lendo esta minha "resposta", ou contra-argumento.

Eu disse mudança, pois não faz muito tempo o preconceito imperante dizia que o rockeiro era, invariavelmente, satanista, drogado, rebelde, indisciplinado, agressivo e alienado. Há bem pouco tempo mesmo e eu passei por isso, de tal modo que é até estranho ler algo como "quem gosta de rock geralmente é um profissional mais antenado, que costuma ler mais do que a média porque se interessa pelos artistas do estilo. Geralmente são mais bem informados sobre o que acontece no mundo e respondem bem no trabalho quando são contratados". Estranho e consolador, como bem disse o autor no final do texto.

O artigo, contudo, por mais simpático que seja aos fãs do bom e velho Rock, me pareceu questionável em pontos vitais. Os dois principais equívocos, ao meu ver, são: partir de casos particulares para chegar a conclusões generalizantes; e concluir algo diferente da afirmação inaugural do próprio artigo. Explico-me.

O primeiro ponto. A proposta do texto, indicada pelo título, é demonstrar que o gosto pelo rock começa a servir como ponto positivo na avalição profissional. Para tal, ilustram o artigo dois casos particulares, um para cada lado da relação empregado/empregador. Não há nenhuma referência à alguma pesquisa minimamente abrangente que pudesse indicar esta nova tendência nas avaliações profissionais. Ele parte, para efeito de argumentação, de fatos pontuais para chegar a conclusões gerais. Exemplificando, seria o mesmo que dizer que a uva é uma fruta azeda por ter comido algumas bem azedas.

Para indicar que há uma nova tendência surgindo na avaliação profissional seria necessária uma pesquisa junto a uma amostragem significativa dos profissionais responsáveis pelas entrevistas de emprego, por exemplo. Já no que se refere aos fãs de rock, tenho, obviamente, muitos amigos rockeiros. A grande maioria deles se encaixam tranquilamente no perfil desenhado por Marcelo Moreira. Mas isto não é suficiente para dizermos que este é um perfil realmente representativo dos rockeiros. Isto poderia, inclusive, criar uma espécie de preconceito às avessas  que não me parece ajudar muito ao bom convívio social.

O segundo ponto. O próprio Marcelo conclui, no final do texto: "Seria um flagrante exagero afirmar que gostar de rock facilita a obtenção de emprego ou estágio – ou que quem gosta de rock é muito melhor aluno do que os outros nas escolas". Como expliquei acima, concordo perfeitamente com esta conclusão. Então, por que cargas d'água ele resolveu dizer exatamente o contrário no título do artigo? Fica esquisito perceber que o texto, ao final, aponta algo diferente do que foi anunciado (não é esta a função do título? anunciar de algum modo o contúdo do texto...).

Por fim, meu xará conquistou dois grandes méritos ao postar este artigo. Ele consegiu gerar um debate necessário sobre esteriótipos e rotulações e, ao mesmo tempo, conseguiu levantar a bola dos fãs de rock, num momento em que é cada vez mais importante construir boas identidades.

E você? O que pensa sobre o tema? Comente aí...

Um grande abraço!

Marcelo Oliveira 

7 comentários:

  1. Obrigado pela citação e meção ao meu artigo. Não creio que o que você mencionado como "equívocos" sejam realmente "equívocos". Em nenhum momento eu generalizei, até porque seria incorreto. O texto partiu apenas de uma constatação de que, em algumas empresas, o fato de gostar de rock pode contar pontos (não só isso, é óbvio, como também dependerás muito do selecionador). Também evitei o termo "tendência", até porque não huve uma pesquisa realizada para atestar tal fato. O que houve sim, como repórter que sou, a constatação de que, em algumas empresas, o rock tem algum peso na avaliação - seja isso bom, ruim, certo ou errado. E as pessoas com quem conversei, um grupo de oito executivos graduados na área de consultoria de Recursos Humanos e que trabalham com empresas de grande parte, foram unânimes em informar que tal "procedimento" (chamemos assim) não estava restrito a dez ou vinte empresas. Sendo assim, até para rebater o que você chamou de segundo equívoco, não creio que o título seja contraditório, por mais que haja limitação de espaço na hora de sua elaboração. As fontes são de qualidade e as informações dão conta de que o universo pode não ser enorme, mas é extenso - e tomei as precauções para justamente não transformar em uma matéria específica de recursos humanos que detecta "tendências" de mercado. Assim sendo, achei interessante compartilhar essa "constatação", sem ter a pretensão de dizer que é uma tendência, já que não tenho meios para tal. E também jamais tive a pretensão de lançar tendência.

    Um abraço.

    Marcelo Moreira
    Combate Rock - Jornal Tarde

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  2. Olá Marcelo!

    Fico muito feliz com tua resposta! Obrigado por vir. Muito bacana de sua parte.

    Dentro da perspectiva jornalística você tem toda razão. É a constatação de um fato (graças a Deus!). Apenas para frisar, quero deixar claro que tenho a forte esperança de que tuas palavras tenham sido "proféticas" e que isto se torne, sim, uma tendência. =)

    O que considerei mais importante no teu artigo foi a ajuda que ele dá na construção de uma "auto imagem" bastante positiva para os fãs de Rock. É bem legal, principalmente pra galerinha mais nova, perceber que gostar de rock está diretamente ligado a uma postura que não tem nada de alienada ou alienante.

    Parabéns por propor este tema para reflexão e pela abertura ao diálogo.

    Grande abraço

    Marcelo Oliveira

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  3. Bacana, mas é preciso tomar cuidado com a criação de novos esteriotipos.

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  4. Verdade, Giovanna!

    Foi o que eu quis dizer quando falei de preconceito às avessas.

    A galerinha que está começando, principalmente, precisa sacar que é bacana curtir rock, mas não é o simples fato de gostar de rock que faz alguém bacana.

    Outra coisa legal que o Marcelo Moreira citou no artigo dele é o interesse dos rockeiros pela biografia dos seus ídolos e pela história das bandas que ouvem. Esta é realmente uma característica muito comum e muito positiva.

    Beijão

    Marcelo Oliveira

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  5. Já tinha lido na época da publicação do artigo no Estado de São Paulo, e gostei do diálogo entre os Marcelos.

    A matéria e os comentários são bastante elucidativos, inclusive com a preocupação de não torná-lo científico, o importante é realmente o respeito às opiniões e gostos, se a preferência musical é crucial para alguém passar em um entrevista de emprego, penso que uma empresa destas não deve ser boa para o candidato trabalhar, caracterizada estaria a discriminação e não a seleção.

    Respeito deve vir sempre antes, um processo seletivo é sempre delicado.

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  6. Bem observado, Cavalier!

    Como disse o meu Xará no artigo inicial, o gosto pelo rock pode servir como uma ponta de Iceberg, um sinal de que há muito mais por baixo daquilo. Qualquer coisa além disso, na avaliação de um candidato, já seria transformar algo positivo em um preconceito discriminatório.

    Grande abraço!

    Marcelo Oliveira

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  7. o mercado de trabalho se baseia demais nas aparências dos candidatos ao emprego. Óbvio que; boa postura, comportamento e o modo de se vestir na hora de se apresentar à uma agência de emprego ou à uma entrevista devem ser bem apresentados, socialmente apresentável, e particularmente bem " à vontade" sem causar má impressão ao profissional que irá avaliar o perfil do concorrente. Isso é apenas um ponto de vista que na minha opinião, qualquer um deve apresentar suas opiniões :)
    Obrigado.
    Fabricio "Breakdown" Tercilio

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