domingo, 4 de setembro de 2011

União pelo Rock!





Vou começar ilustrando o tema com uma cena que presenciei outro dia. Estava eu em uma pequena festa com pessoas de diferentes idades quando começou a tocar "Behind Blue Eyes" na versão do Limp Bizkit. Um garoto que estava conversando com outros dois elogiou a música e a banda. Neste momento, um cara mais velho que estava perto disse que boa mesmo era a versão original, do The Who. Ora, os garotos não faziam a menor idéia do que o cara estava falando, pois nunca ouviram falar do The Who, demonstrando isso com um certo deboche (Who is the Who?). O sujeito ficou vermelho de raiva e vociferou que os garotos "não sabiam nada de Rock" e que a molecada de hoje não passava de um bando de idiotas. foi aí que sai de perto... entristecido.

Conflito de gerações sempre foi uma característica inerente à humanidade que, por este motivo, não poderia deixar de alcançar também aos amantes do Rock. Contudo, até um determinado momento da história do Rock, a relação entre as gerações era muito mais orgânica e reverente que nos dias atuais. Esta é uma característica que precisa ser resgatada para o bem do próprio Rock. Todos nós temos muito a ganhar mantendo um diálogo saudável e construtivo. Vou tentar explicar um pouco melhor.

Quando comecei a ouvir Rock, bem menino, duas realidades forçavam e facilitavam o bom convívio com os mais velhos. Em primeiro lugar, havia uma percepção por parte dos fãs de pertença a algo muito mais amplo do que é comum nos dias atuais. Raramente alguém gostava de uma banda apenas, mas sim de um estilo musical que abrigava um passado e abria-se para o futuro. Quem era fã gostava de Rock e ponto. E isto implicava em gostar de determinadas bandas, não o contrário. As pessoas diziam: "eu gosto de Hard Rock... ou de Metal... ou de Progressivo... e portanto gosto das bandas X,Y e Z". Hoje não é difícil você ver garotos dizendo: "gosto da banda tal e portanto gosto de rock". Percebe a diferença? Além disso, não havia internet. Não tinha muito como o cara fazer-se fã de rock por si só. A informação era difícil, os discos não estavam a um clique de distância e, portanto, para conhecer e aprender sobre o Rock a molecada precisava ir até os mais velhos. Os grandes centros formadores não eram os sites e Youtube, mas sim as lojas de disco especializadas, onde reuniam-se os fãs e lá ficavam por horas trocando idéia sobre as bandas e seus estilos.

A impressão que tenho, e a tese que defendo, é que este cenário mudou drasticamente a partir, principalmente, de meados dos anos 90. No auge do movimento Grunge e com o sucesso de bandas como Guns e Bon Jovi, o rock entrou em um nicho da mídia onde até então não tinha muito espaço. Surgiu a geração MTV, de Rockeiros que tinham o vídeo clip como praticamente única fonte de informação. Gostavam daquilo que viam, mas não imaginavam (e nem podiam por si só) que aquelas bandas estavam inseridas num contexto muito mais amplo. Este problema foi agravado com a popularização da internet. Paradoxalmente à facilidade de acesso à novas informações, a molecada utilizou e utiliza a internet para reforçar cada vez mais os muros que separam os guetos. Além disso, a necessidade de criar identidade própria no universo igualitário da grande rede faz com que a garotada queira apresentar-se da forma mais "individualizada" possível: "não basta mais ser fã de Rock... eu sou fã daquela banda!"

Qual foi a conseqüência disso? Os novos rockeiros não apresentam mais, na grande maioria, a reverência ao passado que sempre marcou o público amante do Rock. Em resposta a isso, o pessoal da "velha guarda" criou uma antipatia quase imediata à nova geração, um preconceito que nunca fez parte da cultura rockeira. Não é difícil perceber o quanto isto é ruim para todos. É o próprio Rock que perde com isso! Quem não conhece suas raízes não consegue formar uma identidade forte. E quem perde a capacidade de acolher o novo perde a capacidade de se reinventar. Obviamente que não estou defendendo aqui que todos tenham que gostar de tudo! Não é nada disso. Mas estou afirmando, sim, que podemos e devemos dialogar para ampliar nossos horizontes e refinar nossas escolhas. As gerações precisam de sabedoria e muita humildade para aprender e ensinar reciprocamente.

Pra finalizar, quando pensei em criar o Social Rock Club queria, antes de tudo, criar um espaço de convivência que possibilite esta troca de experiência e informação. Criar um clube de verdade, com a participação de muitos aproveitando da melhor forma possível toda a potencialidade da internet. Se vamos conseguir, não sei. Mas é certo que iremos tentar.

grande abraço

Marcelo Oliveira

8 comentários:

  1. falou tudo ! , o pessoal tem que aprende a respeita as geraçoes anteriores, porque sem eles não tinha rock'n roll

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  2. Verdade, Brunão!

    E além disso, a galera mais velha tem que se ligar no fato de que tem muita coisa boa rolando hoje em dia sim! O que é bom não tem que ser medido pela idade.

    Esse é o nosso desafio. E conto contigo, irmão! =)

    Grande abraço

    Marcelo Oliveira

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  3. Gostei muito do post, sintetiza muito bem o que acontece no mundo hoje. Falta respeito, e procurar as origens da banda que você gosta. Seus músicos cresceram ouvindo outras bandas, e por quê os jovens não fazem isso?? É triste, mas isso é reversível! Ótimo blog!

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  4. Disse tudo, Vegah! Buscar as referências da banda que você curte é uma das maiores demonstrações de amor pelo trabalho dela.

    Eu também acho que isto possa ser mudado. Aposto muito nisso!

    Valeu pela força! Sinta-se em casa.

    Grande abraço

    Marcelo Oliveira

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  5. "Quem não conhece suas raízes não consegue formar uma identidade forte. E quem perde a capacidade de acolher o novo perde a capacidade de se reinventar."

    Bela frase!

    Gostei mto do texto!

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  6. demais hein! e que manés aqueles garotos xingando uma banda sem ao menos conhecê-la!

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  7. O problema é que hoje em dia as pessoas vão escutando de tudo o que a mídia coloca na tv, youtube como dito no post, em três cliques o cara curte rock, vê os coloridos e acha que é rock.
    Dá para mudar sim, e hoje tem boa musica rolando tb, não só coloridos.
    Quanto ao cara da conversa, ele poderia ter tentado falar mais do The Who, já que estamos na era do youtube, ele poderia ter falado...dá uma procurada lá ou simplesmente ter dito, é aquela banda que toca na abertura do CSI.

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  8. Um excelente texto!! Se mais pessoas pensassem dessa forma, o Rock seria muito beneficiado! As raízes são a base, e as novidades são a nossa forma de crescer, sem a união dos dois o Rock que conhecemos e amamos irá sumir...
    Tomara que o blog possa fazer algo para unir essas duas gerações!!
    Salve o Rock! João Victor @JaoJacob

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