Fala galera, hoje venho aqui ao Social Rock Club com uma matéria especialíssima sobre o Renato Russo, um dos maiores poetas do nosso rock brasileiro. A matéria foi produzida e publicada no Correio Braziliense, jornal de todo o Distrito Federal.
Por Renato Alves (Correio Braziliense)
As letras de músicas escritas e cantadas por Renato Russo são a cara de Brasília. Vias, prédios, moradores e o cotidiano estão em clássicos como Eduardo e Mônica e Faroeste caboclo. Além da cidade das canções, há a pessoal daquele que, até hoje, é o mais famoso artista do Distrito Federal e um dos maiores vendedores de discos do país. Na semana dos 15 anos da sua morte, o Correio visitou os pontos onde o líder de uma geração cresceu, estudou, fez amigos, conheceu o punk rock, fundou suas bandas, realizou os primeiros shows. Um roteiro para fãs e brasilienses de nascença e adoção.
Muitos desses espaços não existem mais como nos tempos do Renato. Um deles, a lanchonete Food’s, na 110/111 Sul, deu lugar a outros estabelecimentos. Hoje, é uma academia de ginástica. Mas, em 1980, era ponto de encontro de punks. Não havia palco ou sistema de som decente. As bandas traziam os alto-falantes velhos no banco traseiro de um carro e ligavam tudo em uma só tomada. No estacionamento da Food’s, Opalas, Fuscas, Mavericks, Kombis e Gordinis tocavam The Clash, The Cure e Ramones. Entre os grupos barulhentos, destacava-se o Aborto Elétrico, criado por Renato Russo.
Atraídos pelo som do Aborto, vindo da Food’s, jovens como Dinho Ouro Preto descobriram o punk rock — Dinho comanda o Capital Inicial, fundado pelos irmãos Fê e Flávio Lemos, ex- Aborto Elétrico. A Food’s foi o xodó da jovem turma de roqueiros até que se descobriu a Adega, casa de vinhos equipada com o lendário fliperama Space Invaders. Futuras estrelas nacionais, como Renato, Dinho e Philippe Seabra (Plebe Rude), tomavam suas biritas e alguns se aventuravam no mundo das drogas no bar que ficava no Centro Comercial Cine São Francisco (102/103 Sul) e era comandado por um alemão sisudo.
Mas, para essa geração, nenhum ponto se compara ao Rolla Pedra. O já extinto teatro de Taguatinga foi o primeiro local onde Renato Russo se apresentou após a Legião Urbana gravar o disco de estreia no Rio de Janeiro. Já um lugar que não traria boas recordações ao líder da Legião é o Hospital das Forças Armadas, no Cruzeiro, onde ele foi internado às presas em 6 de outubro de 1975, após ser diagnosticado com uma epifisiólise. A doença desgasta a cartilagem e provoca o descolamento do fêmur. Sem andar, Renato passou semanas no hospital, até ir para casa. Mas, três meses depois, um médico detectou erro na colocação dos pinos na perna do garoto, que teve de voltar ao HFA para uma segunda cirurgia.
Meras placas
Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, onde morou no auge do sucesso e morreu, na madrugada de 11 de outubro de 1996, Renato Russo sempre ressaltou a importância de Brasília em sua vida pessoal e profissional. Mas, mesmo mostrando a todo o país o que a capital tinha de melhor e pior, por meio das suas músicas e entrevistas, jamais ganhou monumentos à sua altura. Tudo não passou da instalação de quatro discretas placas.
O Governo do DF, então comandado por Joaquim Roriz, chegou a alardear a criação do roteiro turístico-cultural Renato Russo, em 1999. Consultada, a mãe do artista, Maria do Carmo Manfredini, apontou quatro pontos marcantes da carreira dele. O Estacionamento 12 do Parque da Cidade, o que restou do Teatro Rolla Pedra (Taguatinga) e os centros comerciais Gilbertinho e Gilberto Salomão, no Lago Sul, ganharam placas com descrição da importância para a carreira de Renato e trechos de músicas. Mas parou por aí. Somente o Gilberto Salomão mantém a placa.
Doze anos após a primeira iniciativa de manter viva a memória de Renato em Brasília, seu único herdeiro luta para revitalizar os espaços frequentados e cantados pelo pai. Aos 22 anos, Giuliano Manfredini busca parceria com o GDF. O rapaz planeja recuperar os quatro pontos que ganharam placa em 1999 e instalar a sinalização em outros espaços, como a Superquadra 303 Sul, onde Renato Russo morou no fim da infância e toda adolescência. Enquanto o roteiro não sai do papel, a Brasília de Renato Russo poderá ser vista no cinema. Faroeste caboclo tem estreia prevista para o primeiro semestre de 2012. “Veremos diversos lugares de Brasília: o Plano Piloto, as superquadras, as passagens subterrâneas do Eixão, os apartamentos funcionais, o cerrado, o Lago Paranoá, a UnB, a Esplanada, a Rodoviária do Plano Piloto, as luzes de Natal. Reconstituímos a Ceilândia dos anos 1970/80, com ruas de terra e casas de madeira. Também fizemos uns bares e festas de época e, é claro, a Rockonha”, adianta René Sampaio, diretor do filme.
ROTEIRO
Superquadra 303 Sul
» Renato Russo se mudou do Rio de Janeiro para Brasília com os pais e a única irmã, Carmen, em 1972, quando tinha 13 anos. A família Manfredini ocupou um dos apartamentos de 150 metros quadrados do Bloco B da SQS 303, quadra de prédios funcionais do Banco do Brasil. O imóvel serviu de moradia a Renato em sua infância e adolescência.
Cultura Inglesa (Setor Comercial Sul e 708/908 Sul)
» Logo após se mudar para Brasília, Renato foi matriculado na Cultura Inglesa. Frequentou as aulas e a biblioteca na antiga unidade, no Edifício Antônio Venâncio, e na nova, na 708/908 Sul. Amava a língua e o rock inglês. Virou professor da escola.
Marista (615 Sul)
» O colégio onde Renato concluiu os antigos primeiro e segundo graus é um dos raros estabelecimentos que sobreviveram desde a chegada do cantor a Brasília. Hoje, é uma das mais tradicionais instituições de ensino da capital.
Ceub (Asa Norte)
» Após ser reprovado no vestibular do curso de comunicação social da Universidade de Brasília, em janeiro de 1978, Renato é aprovado no Centro Universitário de Brasília (Ceub). Frequenta as aulas paramentado como um típico punk inglês. Escreve poemas, grava programas de rádio, forma-se. O ilustre aluno é lembrado em discreta placa na entrada do Bloco 12 do curso de comunicação.
Teatro Galpãozinho (508 Sul)
» Em março de 1978, Renato estreia como ator principal na peça The real inspector hound, montada por professores da Cultura Inglesa. Meses depois, está em outra montagem da escola de inglês. Quatro anos depois, ele se apresenta no musical A casa do Caraba, que ajudara a escrever. O Galpãozinho hoje é o Espaço Cultural Renato Russo.
Adega (102/103 Sul)
» Fliperama, vinho e cerveja em copo de plástico eram as atrações do bar, no Centro Comercial Cine São Francisco. A turma de jovens comandada por Renato Russo escutava música no estacionamento, ponto de partida para as festas em boates, casas e clubes do Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte.
Cafofo (407 Norte)
» O bar inaugurado em 1979 concentrava as tribos jovens da Asa Norte. Aos domingos, oferecia o punk rock ao vivo e barulhento de bandas brasilienses como o Aborto Elétrico — com Renato Russo no vocal, além de Fê e Flávio Lemos, os irmãos e integrantes do futuro Capital Inicial.
Food’s (110/111 Sul)
» A calçada em frente à lanchonete, que não existe mais, era frequentada pelos punks na década de 1980 e ficava próxima ao Cine Karim — onde Renato adorava ver filmes. Bandas como Aborto Elétrico, Blitx 64, Plebe Rude e Metralhas tocaram lá, com equipamentos rudes e pouco público.
Teatro da ABO (616 Sul)
» O primeiro festival de rock da turma liderada por Renato Russo ocorreu no teatro da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), em 1983. Dividiram o palco Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial, XXX e Banda 69.
Brasília Rádio Center (702 Norte)
» Prédio onde as bandas de rock de Brasília, como a Legião e a Plebe Rude, alugavam estúdios de ensaio durante a noite e nas tardes de domingo. Músicos e amigos subiam até a cobertura para beber vinho, fumar maconha e curtir a vista.
Colina (UnB)
» Quadra residencial reservada a professores da UnB. Vários discos de punk rock chegavam à cidade graças aos filhos de professores estrangeiros. Lá, havia festas e encontros. Para muitos desses eventos, Renato era convidado.
Gilbertinho (QI 11 do Lago Sul)
» Os bares Madrugadas, Papos e Panquecas, Le Club e Rainbow ficavam no centro comercial. O Aborto Elétrico tocava com certa regularidade. O lugar ficou badalado após Legião, Capital e Plebe gravarem os primeiros discos.
Gilberto Salomão (QI 5 do Lago Sul)
» O conjunto comercial era palco de brigas de adolescentes. De um lado, punks, com roupas rasgadas. De outro, playboys, ricos esnobes e bem-vestidos. Renato era punk, mas não gostava desse tipo de confronto. Em um galpão, o Aborto Elétrico tocou pela primeira vez, em 11 de janeiro de 1980.
Lago Norte
» Os poucos adolescentes que moravam na região, ainda parcialmente deserta, se divertiam com shows improvisados no Centro de Lazer, próximo à Ponte do Bragueto. Renato às vezes aparecia por lá. Na infância, ele batia ponto nas piscinas do Clube do Congresso, no fim do Lago Norte.
Teatro Rolla Pedra (Taguatinga)
» Inaugurado com shows de Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, em abril de 1984. Palco do primeiro show da Legião após a gravação do primeiro disco da banda, no Rio de Janeiro. Hoje, o espaço está ocupado por agência bancária, lanchonetes e lojas comerciais.
Rádio Planalto FM
» Em 1983, já jornalista, Russo vira locutor de rádio. Apresenta, de segunda a sexta-feira, ao meio-dia, o programa Primeira classe, com clássicos do jazz. Após a primeira semana, passa a apresentar um programa só com músicas dos Beatles, às 9h. Deixa o emprego por causa dos shows da Legião em São Paulo e no Rio de Janeiro e do primeiro contrato da banda com uma gravadora.
Parque da Cidade
» “Se encontraram então no parque da cidade/A Mônica de moto e o Eduardo de camelo”, diz um trecho de Eduardo e Mônica. O megahit do disco Dois da Legião Urbana, lançado em 1986, retrata a vida de um casal de amigos de Renato Russo, morador de Brasília. O Estacionamento 12 ainda recebe casais apaixonados e jovens atrás de todo tipo de aventura, como nos tempos de Renato em Brasília.
Rodoviária do Plano Piloto
» “Chegando na rodoviária viu as luzes de Natal/Meu Deus, mas que cidade linda.” Os enfeites na Esplanada dos Ministérios, que encantaram o personagem João do Santo Cristo na canção-hino da Legião, são instalados a cada Natal. Já a Rodoviária do Plano Piloto, onde ele desembarcou, vindo da Bahia, não recebe viagens interestaduais há tempo e não encanta ninguém, por causa do abandono.
Rockonha (Sobradinho)
» “Jeremias, maconheiro sem-vergonha/Organizou a Rockonha e todo mundo dançar.” Houve a tal festa embalada por rock e maconha, famosa por meio da canção-hino Faroeste caboclo. E muita gente “dançou”, como Renato, e os irmãos Flávio e Fê Lemos (Capital Inicial), presos por uma noite em um quartel. O local da farra, um sítio, está quase como há 30 anos e fica perto de Sobradinho.
Fonte: Correio Braziliense
Abraço,
Lucas Caldeira
O legião marcou uma baita época no rock nacional na qual eu lamento não existir nessa época(kkk),as músicas deles se tornaram hinos pra muitos. Ps:como o tema da matéria é Brasília,e citando Dinho Ouro Preto:"ei,sarney,vai tomá no c*"
ResponderExcluirEu fico sem saber o que dizer. Legião é pra mim uma das melhores bandas do Rock nacional. Renato era um poeta, e merecia maior reconhecimento.
ResponderExcluirEstá em cartaz o filme "Rock Brasília - A Era de Ouro". Imperdível para fãs das bandas desse cenário marcante do Rock Brasil anos 80.
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