Ainda há Rock no Rock in Rio?

Vem aí mais um Rock in Rio. Seria um enorme desrespeito dizer que não haverá Rock por lá. Desrespeito não com a organização do evento, mas com bandas do peso de Metallica, Motorhead, Red Hot Chilli Peppers e Slipknot, dentre outras. Se for pensar direito, olhar direitinho, vai ter Rock pra cacete! Isso é fato!

Mas então por que existe um certo mal estar pairando no ar? Por que a galera Rockeira está com um pé atrás com esta edição do Festival? É muito fácil encontrar pessoas reclamando abertamente da programação e clamando por mais Rock. Por que? Vou me atrever a tentar explicar a coisa como eu vejo. É só a minha opinião. 

Toda vez que é anunciada uma nova edição do Rock in Rio é inevitável, para mim, voltar no tempo e lembrar do começo de tudo isso. Meu termo de comparação é sempre o primeiro e inigualável Rock in Rio. E foi justamente nesta comparação que pude perceber as razões para o quadro atual de descontentamento.  Assim como na atual edição, em 1985 também foram chamados grandes nomes do Rock e grandes nomes de outros gêneros (especialmente Pop). A grande diferença é que 1985 as estrelas do Rock eram as principais atrações do evento. Toda badalação, toda expectativa do público e toda atenção da mídia estavam voltadas para as bandas de Rock. Hoje, diferentemente, tudo isto está mais voltado para atrações que não fazem parte do cenário rockeiro. É quase como se o Rock tivesse passado de dono da casa a convidado ilustre. Faz sentido, então, que os fãs do Rock estejam enciumados.

Público presente no primeiro Rock in Rio 

Além disso, o Festival de 1985 tinha um perfil completamente diferente daquele que encontramos na edição de 2011. Existia um quê de novidade e ousadia na proposta que naturalmente emprestava ao festival uma cara muito mais Rockeira. A idéia inicial foi tratada como completa loucura no início e foi necessária muita coragem por parte do Roberto Medina para fazer aquilo tudo acontecer (o mérito deve ser dado quando é devido). O Mundo jamais tinha visto um evento como aquele. Nada tão grande, nada que demandasse tanta organização e tanto esforço. E tudo isto num país que até então estava completamente fora dos grandes circuitos de turnês. A grande sacada do Medina foi perceber que só o Rock teria energia suficiente para fazer toda esta engrenagem se mover. E deu certo! Contra a opinião de muitos (havia inclusive uma “profecia” de Nostradamus que, diziam, previa uma grande catástrofe com a morte de muitos jovens no evento), o Rock in Rio foi um gigantesco sucesso e mostrou ao mundo que o Brasil tinha, sim, público e estrutura para acolher grandes espetáculos.

Ingresso do primeiro Rock in Rio

Passados 26 anos, o cenário é completamente outro. O Rock in Rio se tornou uma grande marca. Sinônimo de sucesso garantido. O Brasil é agora quase que passagem obrigatória para as megas turnês. Paralelo a isto, o cenário do Rock se dividiu em tantos sub gêneros, e com tanta hostilidade entre eles, que infelizmente não há mais nomes de consenso com força para atrair multidões de tribos diferentes como fizeram Iron Maiden, Queen, AC/DC e Scorpions. Diante disso, a opção estratégica da organização do evento foi trazer alguns “pesos pesados” do Pop atual para garantir o grosso do público e povoar a periferia com grandes nomes do Rock.  Fizeram certo? Bem, o evento é deles e eles fazem o que bem entenderem.  Paga o ingresso e vai lá quem quiser. 

O que eu tiro disso tudo é que enquanto os rockeiros estão fechadinhos nos seus guetos, falando mal uns dos outros, o Pop está aí, deitando e rolando. Ficaremos sempre em segundo plano. É isso mesmo que queremos?

Grande abraço!

Marcelo Oliveira